sábado, 11 de dezembro de 2010

Casca protetora


Meus ódios são passageiros, os amores, fortes, os desprezos, perenes. Nunca tive medo de odiar. Minhas fúrias são inofensivas; no máximo, palavrões secretos. Minha maior facilidade é desprezar, porque tornei-me mestre em esquecer. Facilmente tenho "uma amnésia". Treinei para esquecer. Cometo homicídios emocionais.

Amo com facilidade, mas me afasto facilmente também. Viro as costas e pronto, acabou. Apago o contorno dos olhos. Anulo os cheiros. Rasgo memórias. Jogo na lixeira da alma quem me feriu. Nunca tramo vingança; não há necessidade, diluo, não sem dificuldade, quem me feriu.

Não, não estou me gabando. Sei que peco contra mim mesma quando desprezo, acabo com a possibilidade do perdão, tranco a porta da misericórdia e me distancio do bem. Preciso da nobreza dos mansos que superam as dores do passado......a minha lateja por décadas.

Já sofri um bocado e criei casca. Para sobreviver, revesti-me de uma certa insensibilidade.

Desejo ser como Jesus. Ele venceu o ódio sem punhal. Desarmado, só com bondade, atropelou a maldade. Sem contar com nenhum exército, fez da ternura a força mais admirável do universo.

Reconheço a minha carência. Tenho muito o que aprender. Ainda hei de acolher quem joga pedra, compreender quem é torto de inveja e caminhar duas milhas com quem conspira para destruir.

Um comentário:

Syl disse...

Não precisa acabar com a possibilidade do perdão. Uma coisa é perdoar, não guardar mágoa e seguir a vida, outra coisa é ficar fazendo papel de palhaça. Uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra.

Continue cometendo seus homicidios emocionais sem peso na consciencia.

Te amo.