segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Lar Feliz


Hoje vi uma das mais lindas cenas da minha vida.
Minha mãe segurando o bisnetinho no colo, sentada no sofá da minha casa e meu pai no chão olhando para ele, de repente começou a cantar:

"Desejo apena que Deus abençoe
meu lar que se acha em festa,
com o nascimento de quem veio enriquecê
minha casa modesta.

Bem sei que o nosso dever
é crescer, casar e multiplicar.
Eis a razão por que agora encontrei
mai prazê em viver e amá.

Ao senti a maior emoção que eu tive
quis sorri, mas confesso que não me contive.
Hoje eu vivo a cantar esses verso que eu fiz
em homenagem à imagem de arguém
que nasceu pra me fazer feliz."


Obrigada por tudo Deus, mais uma vez obrigada!!!!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O Rosto de Deus



Rafael, Michelangelo e vários outros pintores tentaram retratar o rosto de Deus. Foram infelizes. Como mostrar na tela quem nunca foi visto? Com a proximidade do Natal, mais artistas procuram esboçar o que imaginam ser o rosto de Deus.

Ele se parece com uma criança? É o frágil bebê das manjedouras? Talvez; o reino do céu pertence aos pequeninos, aos que mamam. Ao tentar desenhar o mistério, o artista termina com um ídolo.

O rosto de Deus, entretanto, pode ser experimentado nos sem-teto que perambulam pelas ruas e dormem nos viadutos das grandes cidades. Quando Jesus nasceu, a família estava sem moradia certa, não possuía recursos para pagar uma hospedaria e viu-se obrigada a refugiar-se em um estábulo.

O rosto de Deus pode ser percebido em vítimas de preconceito e em injustiçados. Sobre o menino que nasceu em Belém pairou uma dúvida: ele era de fato filho de José? O casal não inventara aquela história toda para se safar de um rolo?

O rosto de Deus se revela nos desprezíveis, nos que foram condenados à margem da história. Quando o menino nasceu, ninguém notou ou escutou o alarido dos anjos. A trombeta que anunciou paz na terra pela boa vontade de Deus passou desapercebida da grande maioria. Apenas um punhado de pastores foi sensível para presenciar o momento mais importante da história.

Qual o rosto de Deus? Ele não se parece com os cartões postais ou com o menino de barro das lapinhas. Deus é igualzinho a Jesus. E Jesus é bem parecido com o vizinho do lado, com a mulher que pede socorro na delegacia do bairro e com a família que chora a morte do filho no corredor do ambulatório.

Não é preciso muito para encontrar Deus, basta um coração de carne, humano.

Ricardo Gondim

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

NASCIMENTO DE UMA AVÓ


Comunico meu nascimento dia 08.11.2010!!!!!!!!



Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...

Quarenta anos, quarenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem as suas alegrias, as suas compensações - todos dizem isso embora você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita.

Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda.

E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino seu que lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.

Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. Aliás, desconfio muito de que netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos.

A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe de comer, dá-lhe banho, veste-o. Embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.

Já a avó, não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, "não ralha nunca". Deixa lambuzar de pirulitos. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia. Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido, antes uma maravilhosa subversão da disciplina. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer roquetes, tomar café - café! -, mexer no armário da louça, fazer trem com as cadeiras da sala, destruir revistas, derramar a água do gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser - e até fingir que está discando o telefone. Riscar a parede com o lápis dizendo que foi sem querer - e ser acreditado!

Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão defunto desfruta os mais requintados prazeres da alma. Porém, esses prazeres não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol. E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós, com os seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto!

E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: "Vó!", seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.

E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe o castiga, e ele olha para você, sabendo que se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade...

Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho - involuntariamente! - bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque "ninguém" se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, Vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague...

(Raquel de Queiroz)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O jogo bruto


""Não sei se por ingenuidade ou imaturidade não me acostumei com jogo bruto. Para mim, jogo bruto é a constatação de que fui lançado na arena da maldade sistêmica, onde noto a hierarquização de interesses. Não sonho em deixar que neste jogo bruto alguém soque o meu pescoço com bota com sola de aço. Ando fatigado, sei que raposas, hienas e abutres andam doidos para abocanhar os incautos derrotados pelos grandes gladiadores.

Refiro-me aos interesses políticos. São muitos os que enxergam os mortais como massa que reboca as paredes onde abrigam sonhos onipotentes. Não aguento mais ouvir promessa de campanha eleitoral. Não suporto picuinhas ditas e repetidas para encobrir projetos pessoais. Não vejo verdade no jogo bruto da política e isso me desalenta a alma.

Mas o desalento não fica só com os políticos. Sou cria do mundo religioso. E estou des-iludido com lógicas infantis. Brechas separam discurso e prática e isso é muito ruim. Por enquanto a minha des-ilusão tem me feito bem - porque me faz cair na real - mas tenho medo de que ela descambe para o cinismo.

Por algum motivo, não tolero que pessoas sejam mobilizadas a partir de paranóias. Vejo alguns religiosos fazem de vidas humanas o belo motivo para alavancar projetos. Eles cavam trincheiras e demonizam pessoas reais, com dramas reais, só para fazer valer seus discursos.

Enquanto isso, vejo inquidades vergonhosas nos bastidores do mundo religioso. Mas como algumas não resvalam na sexualidade, permanecem escondidinhas, intocadas. Não suporto testemunhar que Jesus de Nazaré é usado para promover empavonados, narcisistas, caça-hereges, ditadorzinhos de meia-taça, pseudo-teólogos, bispos sem báculo e os autopromovidos apóstolos.

Não sou santo e nem poso de palmatória do mundo. De tanto errar, de tanto cegar os olhos para as minhas próprias conveniências dogmáticas e de tanto falar obviedades eu também acabei entorpecido por emocionalismos religiosos. Eu também fiz parte de rinhas políticas. Eu reproduzi uma piedade melosa. Entre pecadores, sempre fui o principal.

Contudo, guardo esperança. Talvez eu melhore. Vou procurar o convívio de gente despretensiosa, que ama poesia, que ouve sabiás e bem-te-vis, que gosta de silêncio, que não vê diabo em cada esquina e que não vive a praticar alpinismo social em nome da democracia ou do sagrado.

Por enquanto, estou de ressaca existencial, meio arredio. Preciso de um tempo...""

Faço minhas as palavras de Ricardo Gondim!!!