"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." Clarice Lispector
sábado, 11 de dezembro de 2010
Casca protetora
Meus ódios são passageiros, os amores, fortes, os desprezos, perenes. Nunca tive medo de odiar. Minhas fúrias são inofensivas; no máximo, palavrões secretos. Minha maior facilidade é desprezar, porque tornei-me mestre em esquecer. Facilmente tenho "uma amnésia". Treinei para esquecer. Cometo homicídios emocionais.
Amo com facilidade, mas me afasto facilmente também. Viro as costas e pronto, acabou. Apago o contorno dos olhos. Anulo os cheiros. Rasgo memórias. Jogo na lixeira da alma quem me feriu. Nunca tramo vingança; não há necessidade, diluo, não sem dificuldade, quem me feriu.
Não, não estou me gabando. Sei que peco contra mim mesma quando desprezo, acabo com a possibilidade do perdão, tranco a porta da misericórdia e me distancio do bem. Preciso da nobreza dos mansos que superam as dores do passado......a minha lateja por décadas.
Já sofri um bocado e criei casca. Para sobreviver, revesti-me de uma certa insensibilidade.
Desejo ser como Jesus. Ele venceu o ódio sem punhal. Desarmado, só com bondade, atropelou a maldade. Sem contar com nenhum exército, fez da ternura a força mais admirável do universo.
Reconheço a minha carência. Tenho muito o que aprender. Ainda hei de acolher quem joga pedra, compreender quem é torto de inveja e caminhar duas milhas com quem conspira para destruir.
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Um comentário:
Não precisa acabar com a possibilidade do perdão. Uma coisa é perdoar, não guardar mágoa e seguir a vida, outra coisa é ficar fazendo papel de palhaça. Uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra.
Continue cometendo seus homicidios emocionais sem peso na consciencia.
Te amo.
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